sexta-feira, 15 de julho de 2011

Onde a pontualidade e a insônia não existissem

Ele se levantava exatamente às quatro e dez da manhã todos os dias. Independente de ser final de semana, feriado ou dia comum. Seu relógio biológico acostumou-se assim. E esse fator irritava-o profundamente. Programas na tv banais e quem sabe um livro era a única coisa que o salvaria de pensamentos ruins e imagens e experiências que nunca havia vivenciado. As vezes, pensava estar enlouquecendo, vendo-se em imagens nunca antes fotografadas. Sentindo sabores que nunca havia experimentado. Sonhando, mas estando plenamente acordado. O medo dominava-o a cada batida de um relógio antigo pregado exatamente diante de sua cama. A escuridão dava-lhe a impressão de estar sendo observado por olhares misteriosos, olhares que o julgavam a cada vestígio novo em sua imaginação mentirosa e fértil. Barulhos surgiam. Sussurros. E a cada momento mais medo.  E isso repetia-se todos os dias. Essa insônia que nenhum médico conseguia lhe explicar. Esse horário rigoroso e pontual. Esse medo dominador e perverso. Essa imaginação falsa e fértil. Esse desejo de querer acabar com tudo isso. Esse medo de viver pra sempre á sombra de si mesmo, da própria imaginação e viver em função única disso. Esse problema em nunca conseguir descansar e aliviar a mente. Esse desejo de viver o real, mas o medo de largar sua própria história perfeita e escrita por si mesmo. Essas imagens avassaladoras que o consumiam. Esse desejo de querer viver, mas de não conseguir enxergar o verdeiro real.
 Uma escolha deveria fazer. O real atormentador e a imaginação escrita por si mesma. Desse modo não poderia continuar. Ou uma ou outra. E a que mais lhe trazia vantagens, foi a escolhida. Viver em mundo feito por si mesmo. Um mundo onde lhe pedoara por todos os seus erros e assumisse sua verdadeira essência. Onde a pontualidade e a insônia não lhe perseguisem. Um mundo irreal aos olhos dos outros, e totalmente fantásticos aos seus. A morte.

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